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domingo, 3 de maio de 2009


Terra: nosso lar sagrado.
A ecologia é, hoje, um dos temas mais importantes nos debates no nosso mundo. Um verdadeiro fenômeno social contemporâneo que é parte ativa das discussões que estão na vanguarda da crítica ao modelo de sociedade que temos e sua relação com as bases de suporte da vida no planeta. A visão ambiental é um tema transversal que manifesta desde o processo de desenvolvimento tecnológico até as formas de educação formal e informal. Aparece tanto na questão da agricultura, quanto no planejamento urbano e regional, tem contribuído nas questões da saúde, saneamento e alimentação. Aparece quando discutimos as questões do clima, da perda da biodiversidade natural e na necessidade de protegermos animais, plantas e ecossistemas.
Ecologia é uma ciência que evoluiu e se transformou num grande movimento social. Partindo de simples proposta de estudo da lógica das relações dos seres vivos com as bases físicas e químicas de seu meio, a Ecologia lançou as bases de uma nova compreensão da dinâmica da vida no planeta. E isso se torna um ótimo tema para se trabalhar em sala de aula, pois as crianças devem ter essa consciência desde a educação infantil.
Hoje, os ecólogos e ecologistas enxergam a Terra como um grande ser vivo capaz de se automanter através de uma tremenda teia de inter-relações entre todos os seres que vivem neste pequeno planeta. As várias espécies de seres vivos da Terra se comportam como células e tecidos de dezenas de órgãos que matem o fenômeno vital do planeta. E isso deverá ser ensinado de forma seria e urgente nas escolas publica e privadas de ensino básico do Brasil.
Esta forma de ver o mundo se constitui num paradigma novo para a humanidade que enxerga unicidade e inter-relação entre tudo e todos. Paradigma este que se opõe ao paradigma cartesiano, base de nossa ciência e cultura, que propõe um mundo mecanicista em que cada parte está separada e vive independente dos demais. Paradigma formado por Descartes no início da Era Moderna, mas que encontra raízes no pensamento aristotélico da filosofia grega clássica e que fundamenta boa parte da visão teológica das religiões monoteístas contemporâneas.
A visão mecanicista do mundo é a que tem fundamentado uma série de transformações na dinâmica da vida do planeta tanto nas relações da humanidade com as demais criaturas, como também nas relações dos seres humanos entre si através das várias tecnologias e construções sociais.
Contudo, quem crê que os outros seres são unidades independentes e sem vinculação com sua própria identidade não dispõe de ferramentas para entender como é condenável a destruição inútil de paisagens e criaturas pela ação da tecnologia humana no planeta. Esta idéia é muito poderosa porque combina muito bem com a auto-imagem egoísta da maioria das pessoas que sempre coloca cada um de nós na ilusória posição de reis do mundo.
Dentro deste paradigma cartesiano, uma ação é boa quando redunda em benefício para si mesmo. Num reducionismo daí decorrente, a sociedade moderna só julga positivas ações que resultem em lucro financeiro independente do que isto signifique para a sobrevivência de povos e espécies.
Verdadeira ilusão que oculta o fato de que nossa vida é parte de uma teia de inter-relações. Se um fio se rompe, a teia fica mais fraca. Se persistir o processo, pode chegar o momento em que a ruptura de um único fio gere o colapso final de toda a estrutura da teia. Este, é o dilema civilizatório que se averba nas últimas décadas em que o poder tecnológico da humanidade se converteu numa força geológica com potência superior à força de todos os demais fenômenos naturais, sejam eles brandos ou violentos. A mão humana já é mais forte que todos os vendavais, terremotos, maremotos, vulcões etc., que agem na Terra.
A supremacia do humano sobre o natural é um equívoco tão grande quanto às teorias sociais e lógicas que justificaram a superioridade de algumas organizações humanas sobre outros. Estas teorias justificam ditaduras, escravidões, genocídios e guerras ao longo da História.
É por isso que a compreensão ecológica e sistêmica pede, também, uma nova visão do transcendental e do sagrado.
Nilton Carvalho é professor, cabeleireiro, teólogo, historiador e pós-graduando em educação pela Universidade Católica de Goiás. ndc30@hotmail.com; http://historiaeculturandc.blogspot.com/.