Páginas

Translate

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O que leva a classe média e as camadas mais pobres ao crime?



O que leva a classe média e as camadas mais pobres ao crime?




Uma crise de valores contribui para a participação de pessoas de classe média em quadrilhas do crime organizado, em atos criminosos individuais e em episódios marcados por violência em todo o Brasil e em especial na cidade do Rio de Janeiro. Essa é a opinião do antropólogo Gilberto Velho, 54, professor titular do Museu Nacional (instituição da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ) que, nas últimas três décadas, fez estudos sobre o que chama de camadas médias. E as camadas mais pobres porque se marginalizam? Segundo alguns especialistas a criminalidade no Brasil ocorre principalmente nas camadas mais pobres devido à carência de recursos econômicos e técnicos, falta de maiores e melhores investimentos em educação, segurança e saude, à corrupção na política aliada à falta de apoio político-institucional, do governo federal e principalmente nos governos estaduais, no Legislativo e no Judiciário. As camadas chamadas de elite também se marginalizam, mas o nosso foco por hora é o sugerido no título do artigo.

Segundo o III Relatório Nacional sobre Direitos Humanos no Brasil (focaliza o período 2002-2005), a ineficácia do Estado perante o aumento da violência gera ainda mais violações de direitos humanos e impunidade, além de aumentar o sentimento de insegurança e revolta da população. De acordo com estudos, 48.374 pessoas morreram vítimas de agressão em 2004, uma média de 27 por grupo de 100 mil habitantes. Na faixa etária de 15 a 24 anos, foram 18.599 mortes, média de 51,6 por 100 mil habitantes. Entre 2002 e 2005, 3.970 pessoas foram mortas por policiais no Rio de Janeiro e, em São Paulo, 3.009. O III Relatório Nacional sobre Direitos Humanos no Brasil, apontou também um aumento dos conflitos rurais que passaram de 925 em 2002 para 1.881 em 2005. O número de mortes nessas disputas quase duplicou no período, subindo para 102 vítimas. A conclusão é de que houve retrocesso nessa área de 2002 a 2005, as classes menos abastadas que sempre foram culpadas pela violência agora começam a ser ameaçadas em sua “liderança de crimes”, pois a grande vilã no aumento da criminalidade é a classe média. Jovens bem vestidos que possuem boas moradias e estilos de vidas, que são bem educados em ótimas escolas, freqüêntam bons shopings, teatros, boates, possuem as melhores oportunidades de trasbalho etc., agora são pegos em atos barbaros de crimes hediondos, traficos de drogas etc. Em suma, aquele discurso das décadas de 1980 e 1990 que a criminalidade e violência eram culpa das desigualdades sociais, das poucas oportunidades de ascenção social das classes mais pobres, não tem mais fundamento, desafio os intelectuais e estudiosos do tema a uma nova compreenção do assunto para que se explique o por quê de boa parte da classe média que tem todas as oportunidades aderirem ao mundo do crime.

As atitudes violentas cometidas por jovens de classe média e moradores de áreas pobres das regiões metropolitanas das grandes cidades do Brasil têm assustado toda a sociedade brasileira. Para a psicóloga e mestre em educação, Ana Karina Brenner, do Observatório Jovem da UFF (Universidade Federal Fluminense), trata-se de uma luta de classes “Toda vez que um adolescente pobre comete um crime contra alguém da classe média se discute a redução da maioridade penal”, ressalta Brenner. Do ponto de vista da luta de classes, contrário à redução, o juiz da 37ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, Geraldo Prado vai mais além. Para ele, o debate da redução da maioridade é um retorno disfarçado do autoritarismo que insiste em criminalizar adolescentes, especialmente os que moram nas favelas e periferias. “É todo um projeto de criminalização contra um grupo de pessoas que são ‘indesejáveis’ na sociedade”, discute. “Há mais negros dentro das cadeias do que nas universidades”, exemplifica Prado.

Nas últimas semanas, fatos fizeram a classe média brasileira se perguntar se o perigo não está mais perto do que se imagina. Pois, quando a classe média compra drogas ela está financiando, patrocinando oficialmente a violência, como chacinas, assaltos, roubos, furtos, latrocínios etc., contra si mesmo e também contra as classes menos abastadas e a elite financeira deste país. Por exemplo, os crimes praticados contra a cabeleireira Elenir Maria de Queiroz, de 63 anos, depois de ser ferida durante um assalto no dia 2 de outubro em Goiânia. E contra Evandro João da Silva coordenador do Afroreggae no início da madrugada do dia 18 de outubro na cidade do Rio de Janeiro, mostra como a classe média é refém de si mesmo, provavelmente Elenir e Evandro jamais compraram drogas, mas foram vítimas de criminosos que com certeza vendiam drogas para boa parte de usuários da classe. A parcela desta classe que compra drogas, estar comprando em curto ou médio prazo a morte violenta de inocentes de qualquer classe social.

Por fim temos alguns casos de membros da classe média aderir ao mundo do crime como por exemplos, F.B., um garoto de 17 anos, educado em tradicional colégio alemão, foi assassinado com mais cinco jovens em um morro da zona sul carioca, para onde se mudara a fim de traficar drogas. Ainda, Maurício Chaves da Silveira, o Mauricinho Botafogo, 25, foi preso sob acusação de participar de um bando dedicado a assaltos a apartamentos de vários Estados. Filho do dono de uma agência de turismo e cambio do Rio, já cumprira um ano de prisão por assalto em Blumenau (SC). Em Goiânia na boate Santa Fé o jovem Ge¬di¬el¬son Ro¬dri¬gues, de 22 anos, evangélico filho do ca¬bo da Po¬lí¬cia Mi¬li¬tar Wan¬der¬ley Lu¬iz Ro¬dri¬gues um ho¬mem de bem, assassinou covardemente Hi¬gor Bru¬no Bor¬ges Es¬te¬ves, de 23 anos, estudante de far¬má¬cia, era um ga¬ro¬to do bem, não era de freqüentar bo¬a¬tes e de fa¬zer far¬ras. Já Gedielson, segundo informações da polícia à imprensa já praticara outro homicídio com o apoio de uma gan¬gue, ma¬tou Pab¬lo Hen¬ri-que Go¬mes, de 17 anos, em 2005, não es¬tu¬dava, não tra¬ba¬lhava e praticou ainda outros crimes. A de¬le¬ga¬da Adri¬a¬na Ri¬bei¬ro re¬ve¬la que a mãe de Ge¬di¬el¬son, Nil¬va¬ne Eli¬za¬beth Ro¬dri¬gues, as¬su¬miu que ha¬via “rou¬ba¬do” um car¬ro úni¬ca e ex¬clu¬si¬va¬men¬te pa¬ra lim¬par a bar¬ra do fi¬lho. Casos como esses criaram a sensação de que nunca o crime foi tão tentador aos jovens de classe média. Dados parciais e obtidos com critérios pouco definidos da Justiça sugerem que há mais gente de classe média no crime, mas os levantamentos são inconclusos. Pesquisa da Secretaria de Estado da Justiça do Rio constata que a pobreza não é fator determinante da criminalidade. Segundo os dados, 81% dos presos de 18 a 24 anos no sistema penitenciário estadual tiveram o sustento de suas casas assegurado pelo pai, à mãe ou ambos. De todo modo, os pobres continuam sendo as maiores vítimas da violência. Afirma Gilberto Velho.

Nilton Carvalho é professor, teólogo, historiador e pós-graduando em educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC). ndc30@hotmail.com; http://historiaeculturandc.blogspot.com/.