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quinta-feira, 8 de abril de 2010

As mulheres da Bíblia que superaram o antropocentrismo

Uma comparação entre homem e mulher no contexto das escrituras, não concorreria de modo algum a favor daquele que é considerado forte. Quando a Bíblia coloca lado a lado os dois sexos, pode-se apostar que o fim do relato inverterá as dignidades implicadas no início.
Mulheres que executaram duplamente atos masculinos tanto pelo sexo quanto pelo poder, como, por exemplo, Sara de Abraão, Rebeca de Isaac, Raquel de Jacó, Raab a prostituta de Jericó, Ana mãe de Samuel, Rute nora de outra grande mulher Noemi, Judite, Susana, Débora e Vasti esposa de Assuero que se negou dançar para a corte e para o Rei, haja vista estarem embriagados, mantendo-se em posição de honra.
Doravante, observam-se alguns casos específicos.
Tem-se na Bíblia àquela que pode ser considerada uma das maiores heroínas da narrativa bíblica, “Ester” que era órfã, escrava e cativa na Pérsia. Ester viveu em um contexto de desprezo em que eram mantidas as mulheres, consideradas de musculatura mais flácida que a do homem, da assimetria suposta entre homem e mulher, da sexualidade e, sobretudo, da impureza periódica que a assimilava a seres lunares e maléficos. Porém, ela soube contornar as situações embaraçosas e constrangedoras do contexto social, religioso, político e cultural em que vivia.
No entanto, a história de Ester é inicialmente idílica. Ester uma judia comum, torna-se rainha como nos contos de fada. Os ingredientes são promissores: um palácio oriental, eunucos e um harém, um rei que escolhe uma moça humilde, elementos suficientes para escrever muitas páginas de histórias como As Mil e Uma Noites, sobre esta heroína.
Mas o que interessa é que Ester chegou à posição de rainha da Pérsia após ser escrava, como lucro, livra seu povo do genocídio anunciado. Ester não se corrompeu devido tantos problemas e, foi recompensado com a glória de seu reinado. Ela é lembrada todos os anos pelo judaísmo uma das religiões mais antropocêntrica e patriarcal do mundo, na Festa do Purim, onde se comemora a salvação dos hebreus condenados ao extermínio por Amã o Vizir malvado que odiava seu povo.
Outra grande mulher é Maria mãe de Jesus, que sofrera o constrangimento de uma gravidez ainda no período de seu noivado com José, por consequência disso José pensou abandoná-la, pois não suportava os falatórios difamadores sobre Maria, só a partir de uma visão divina é que ele a assumiu integramente. Mesmo assim, Maria após ficar viúva criou sozinha até a morte todos os seus filhos.
Maria Madalena, que fora condenada por homens malvados, mas absorvida por um homem doce, meigo e acolhedor, onde este fez seus acusadores entrarem numa introspecção dos próprios pecados e, outras tantas mulheres que demonstraram o quanto a mulher é importante para o contexto social e não só para atender aos caprichas machistas. Na Bíblia a mulher nunca é vista como uma facção. Não se pode vê-la conspirar. Está sempre sozinha e, dará nas vertentes do Gólgota a prova de sua incapacidade, inapta a formar corpos constituídos.
Todas essas mulheres vivem numa solidão que contrasta vivamente com as capacidades masculinas. No entanto, com o surgimento do Cristo, a mulher do evangelho diferentemente da do Antigo pacto, vive uma inversão das Bem-aventuranças: pobre, é considerada rica; fraca, poderosa; inculta, revela-se profetiza; culpada, tem gestos de santidade; rebelde ela crê.
Cristo não a metamorfoseou, simplesmente tornou a verdade mais forte do que a aparência, onde Jesus colocou-se ao lado delas, mas não somente para socorrê-las, também para receber delas colaboração, afeto, companhia e até mesmo sustento financeiro, as quais lhes prestavam assistência com seus bens.
Por último, seu isolamento, sua humanidade, a rapidez de sua adesão, opõe-nas à casta desprezível dos fariseus. Defendê-las para Cristo equivalia a atacar o adversário. A mulher sempre foi uma grande companheira e auxiliadora do companheiro ou do homem em si, no contexto bíblico, no entanto a cultura judaico-cristão-patriarcal, “nunca abriu os olhos”, para enxergar tamanha realidade patente, cabendo, então, a nós educadores a responsabilidade de trazer isso à tona.


Nilton Carvalho é cabeleireiro, professor, teólogo, historiador e pós-graduando em educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás-(PUC). ndc30@hotmail.com; http://historiaeculturandc.blogspot.com/
Jesus Cristo: o meigo educador celeste

Ao longo da história, muitas pessoas conseguiram com suas idéias mudar o curso da política, da filosofia, da ciência, da educação, da cultura, da própria história ou da religião.
Pessoas essas que deixaram enormes legados para a cultura, dentre vários podemos citar alguns como: Rousseau, Pestallozzi, Dewey, Ferrière, Cousinet, Neill, Rogers, Vygotsky, Robin, Montessori, Piaget e Paulo Freire. Estes estudiosos e pesquisadores de várias áreas do saber como a Psicologia, Biologia, Medicina, Filosofia, Educação e Antropologia, contribuíram em muito para que a pedagogia avançasse. Todos, de alguma forma, têm lugar no campo pedagógico, incluindo Piaget com seus trabalhos sobre a gênese do desenvolvimento e do raciocínio, Vygotsky com sua importante teoria Histórico Cultural de construção de conhecimentos e Paulo Freire com sua pedagogia do oprimido que mostra a opressão contida na sociedade e no universo educativo, em especial na educação/alfabetização de adultos. Aonde a opressão é apresentada como problema crônico social, visto que as camadas menos favorecidas são oprimidas e terminam por aceitar o que lhes é imposto, devido à falta de conscientização, sem buscar realmente a chamada Pedagogia da Libertação.
Uns construíram teorias propriamente ditas, outros aplicaram estudos e observações diretamente no campo pedagógico, mas, sem dúvida, todos foram estudiosos que deixaram marcas na educação.
Contudo, houve um homem, que foi capaz não só de abalar os alicerces do pensamento como de alterar para sempre a trajetória da humanidade. Esse homem foi Jesus Cristo e seus ensinamentos geram frutos há mais de dois mil anos. Suas incomparáveis inteligência e personalidade tornaram-no o perfeito ponto de partida para um modelo de educador, pois desde o início de seu ministério ele provou uma surpreendente capacidade de superação. Conhecido como O Mestre dos Mestres, sua inteligência, sua didática e o domínio que detinha da sua “disciplina” para ensiná-la, eram bem mais grandiosas do que imaginamos.
Sob o ponto de vista da psicologia, temos em Jesus Cisto um fascinante estudo do comportamento, iluminando os aspectos mais notáveis de suas atitudes. Quando se esperava que ele falasse, ele silenciava; quando se imaginava que ele puniria, então, ele perdoava; quando se achava que ele ostentaria seus feitos, mostrava-se humilde. Quando soube que seria preso, em vez de fugir, Jesus entregou-se ao destino e à morte. Ele viu de perto a fome, a miséria e a dor, mas manteve-se firme em seus propósitos. Tamanha era sua capacidade de gerenciar as emoções que, apesar das inúmeras provações por que passou, Jesus tornou-se o símbolo maior da esperança, do amor, da dignidade e da compaixão. Ensinando a todos nas Sinagogas, nas casas e nos montes da Judéia, da Galiléia e de toda a Palestina o caminho das bem aventuranças àqueles que eram marginalizados, excluídos e escravizados pelo Império Romano e pela religião oficial do Templo de Jerusalém.
Não importam quais sejam suas crenças, sua religião, posição social ou condição financeira, a mensagem de Cristo é universal e fala ao coração de todas as pessoas. Lembrando que eu mesmo não sou religioso, mas creio em Jesus e em sua mensagem. Vejo então no meigo educador uma capacidade muito grande de ensinar, ele é aquele que os teóricos da educação vão chamar de professor acolhedor, que tem como principal característica ouvir o que seus alunos querem dizer acolhendo-os e, ao mesmo tempo, exigindo melhoras, impondo-lhes limites e cobrando-lhes responsabilidades.
Jesus mesmo, não produziu nenhuma obra biográfica ou literária, mas escritores que foram testemunhas oculares de suas obras ou discípulos de quem foram, pesquisaram e escreveram sobre seus ensinamentos e suas práticas. Jesus era um educador apaixonado pelos seus alunos, o seu intento era dar-lhes a cura para a alma, mas também para o corpo físico. Várias vezes as multidões foram alimentadas com pão material, mas também com pão para a alma “o conhecimento.” Curou também por vezes o corpo físico das enfermidades, porém, curou também a alma com o remédio do saber. Certa feita declarou que as pessoas erram por não conhecer e por ignorar o conhecimento.
O meigo educador celeste nos trouxe a maior das lições e dos ensinamentos que é o “amor.” Quando lemos os ensinamentos do mestre vemos que ele é dotado de uma inteligência suprema e que usou ferramentas para educar a todos, pois seus ensinamentos oxigenaram e continua oxigenando as mentes em direção à sabedoria desta vida e também para quem crer em sua “pedagogia” para a vida no porvir.
Por fim, os fundamentos pedagógicos do ensino de Jesus estão na sua concepção de mundo, abrangendo o homem e a vida. Essa cosmovisão se opõe à concepção greco-romana da época e à concepção judaica. Jesus, assim, não é apenas um reformador religioso, mas um filósofo na plena acepção da palavra. Ele modifica com seus ensinamentos a visão antiga do mundo e essa modificação atinge a todas as filosofias do tempo, não obstante os pontos de concordância existentes com várias delas. Bastaria isso para nos mostrar, à luz da Ciência da Educação, a legitimidade da tese que inclui Jesus entre os grandes educadores e pedagogos, colocando-o mesmo à frente de todos. Não se trata de uma posição religiosa, mas de uma constatação pessoal. Como disse o Mestre amado: "Reconheça o que está ao alcance dos seus olhos, e o oculto tornar-se-á claro.” E outro grande educador arremata: "Não se pode falar de educação sem amor” (Paulo Freire).

Nilton Carvalho é professor, teólogo, historiador e pós-graduando em educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás-(PUC). ndc30@hotmail.com; http://historiaeculturandc.blogspot.com/