Páginas

Translate

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Pós-graduação stricto sensu no Brasil é excludente e elitista

         Segundo Ghiraldelli Junior (2006) o Brasil foi colônia de Portugal entre 1500 e 1822. A educação escolar nesse período, ou seja, a educação regular e mais ou menos institucional de tal época, teve três fases: a do predomínio dos jesuítas; a das reformas do Marquês de Pombal, a partir da expulsão dos jesuítas do Brasil e de Portugal em 1759; e o período em que D. João VI então rei de Portugal, trouxe a Corte para o Brasil (1808-1821). A educação brasileira teve seu início propriamente dito com o fim do regime de capitanias. O Brasil ficou sob o regime de capitanias hereditárias entre 1532 e 1549. Tal regime terminou quando D. João III criou o Governo Geral, sendo o primeiro governador Tomé de Souza, o Padre Manoel da Nóbrega e dois outros jesuítas os primeiros professores (VIEIRA, 2003).
         Ferreira Jr. e Bittar (2005) afirmam que no mesmo ritmo em que Brasil e Portugal, no período do antigo sistema colonial, inseriam-se de forma subordinada e dependente na lógica capitalista mundial, criada pela burguesia mercantil européia, os jesuítas alteraram os seus objetivos educacionais no Brasil Colônia. Nesse contexto, os nativos (chamados de Índios, por equivoco), foram deixados de lado pela missão educacional da Companhia de Jesus, que os substituíram pelos filhos dos grandes proprietários agrários. A ação pedagógica jesuítica, na prática, ficou reduzida a formação de um minúsculo estrato social de letrados que, através do domínio do saber erudito e técnico europeu de então, orienta as atividades mais complexas e opera como centro difusor de conhecimentos, crenças e valores (VIEIRA, 2003).
         Os jesuítas começavam a instaurar aquilo que seria a principal marca de nossa educação ao longo da história: o elitismo e a exclusão. Esse direcionamento elitista e excludente não foi suficiente para que os jesuítas inaugurassem o ensino superior na Colônia, pois conforme Sguissardi (2004) a “idéia de universidade no Brasil Colônia” foi negada pela Coroa aos Jesuítas. Contudo, o trabalho dos jesuítas teve duas fases distintas, conforme Vieira (2003, p. 35),
“[...] a primeira foi o plano de estudos concebido por Manoel da Nóbrega, em ensinar as primeiras letras, a alfabetização. Junto a isso a catequese, a música e a indicação profissional. A segunda fase se inspirou nos princípios da Ratio Studiorum, que foi o ensino de humanidades, filosofia e teologia”.
         Porém, ao que tudo indica o projeto de Nóbrega esbarra em resistências no seio da própria ordem religiosa. Para Portugal, o banimento da Companhia de Jesus da Colônia, ocorrido em 1759, significou não somente uma nova etapa para a educação mais antes de tudo sua sobrevivência política e econômica.
         As primeiras experiências de ensino superior no Brasil só ocorreriam 308 anos depois da chegada dos colonizadores, conforme Morosini (2005) a criação de cursos superiores no país ocorreu somente com a vinda da família real portuguesa, em 1808. Estes se caracterizavam por duas tendências marcantes: cursos isolados – não universitário – e uma preocupação basicamente profissionalizante. Fortemente influenciando pelo modelo francês, o ensino superior brasileiro não superou a orientação clássica, nele prevalecendo à desvinculação entre teoria e prática. Os principais cursos eram voltados ao ensino médico, de engenharia, de direito, de agricultura e de artes, onde levianamente D. João VI doava o título de doutor a quem não fosse estudar na Europa, erro ratificado por Dona Maria ‘a louca’ e Dom Pedro I. Tudo isso para fortalecer as classes dominantes da época, enquanto as classes dominadas restavam o campo, as minas e a pecuária.
Em um salto olímpico iremos para os dias atuais, aonde de certa forma o ensino superior no Brasil democratizou-se sobremaneira nos últimos dez anos, todavia valorizando os interesses das classes dominantes, em detrimento das classes dominadas.
         Os cursos mais lucrativos para o mercado foram os que mais cresceram e tiveram investimentos. Cursos de menor apelo popular estão quase fechados, na verdade em muitas Instituições eles já fecharam, por não haver demanda de alunos nem financiamentos do Estado brasileiro.
         Por fim, as pós-graduações stricto sensu que compreendem mestrado e doutorado ficam cada dia mais exclusivas àqueles que detêm o poder financeiro e de influência, isso mesmo influência. Explico: aqueles que podem pagar caro por um mestrado ou doutorado conseguem entrar nas Instituições privadas e se manterem, muitos até esbanjam desistindo do curso afirmando que não era aquilo que ele queria e acaba migrando para outro curso, isso porque podem gastar. Quem não pode pagar lhes restam as Instituições publicas e aqui, mesmo que você faça um senhor pré-projeto de pesquisa, passe na prova de proficiência de idioma estrangeiro, as ‘máfias da influência’ que compõem as bancas examinadoras na hora da entrevista prioriza o aluno egresso, mesmo que este tenha ficado mais mal classificado que o candidato novato. Por isso, afirmo que pós-graduação stricto sensu no Brasil é excludente e elitista. Elitista porque faz quem pode pagar, excludente porque exclui quem não pode pagar e quem é egresso daquela Instituição publica e isso ninguém é capaz de desmentir.

         Professor Nilton Carvalho é Historiador, Especialista em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), Teólogo e mestrando em Ciências da Religião. ndc30@hotmail.com;
http://www.palavradevidaemcristo.blogspot.com/;
http://historiaeculturandc.blogspot.com/;
http://twitter.com/#!/profnilton07


Referências bibliográficas

FERREIRA Jr., A.; BITTAR, M. O marxismo como referencial teórico nas dissertações de mestrado em educação da UFSCAR (1976-1993). Cadernos CEMARX, Campinas – SP, 2005.
GHIRALDELLI JR., Paulo. "História da educação brasileira". São Paulo: Cortez, 2006.
MOROSINI, M. C. Universidade e Política Nacional de Ciência e Tecnologia Pós 70. Porto Alegre: UFRGS, 2005.
SGUISSARDI, Valdemar. Rumo à universidade mundial: e a universidade será feita a sua imagem e semelhança. Coleção Subsídios para a discussão sobre as políticas e a gestão da Universidade/Educação Superior. Tema 8: Internacionalização da educação superior: globalização de um modelo. Brasília: INEP/MEC, 2004.
VIEIRA, Sofia Lerche. Políticas educacionais no Brasil: introdução histórica. Brasília: Plano Editora, 2003.