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terça-feira, 5 de maio de 2009


A droga na escola e a “droga da escola”



Desde que a linguagem surgiu, a educação ajuda o homem a garantir sua sobrevivência. Ela permite que as habilidades e os conhecimentos adquiridos com a experiência sejam repassados para as gerações seguintes. Na Pré-História a tarefa de educar os jovens cabia a todos os adultos, já que não existiam professores. Isso acontecia de forma oral e espontânea. Com o desenvolvimento da escrita (4000, a.C.), pessoas especializadas garantiram a educação, os espartanos, por exemplo, priorizavam o treinamento físico, mas todo menino tinha um tutor que lhes ensinava as ciências que precisava aprender. Já os atenienses cobravam para ensinar, foram os primeiros no ocidente, inauguraram assim a profissão docente. Durante a Idade Média a educação ficou a cargo da Igreja, que a restringia aos membros do clero. A partir do ano 789, todo mosteiro tinha uma escola. No entanto, os professores não faziam cursos para ministrar aulas, situação que só mudou a partir do século 19. No Brasil, os jesuítas dominaram o sistema de ensino de 1549 até 1759, quando foram expulsos do país. Ainda no século 18, surgiram os educadores profissionais que ensinavam os filhos dos nobres; á escravos e serviçais a educação era negada, caracterizando assim os primeiros focos de exclusão no Brasil. A partir do início do século 20 nossa educação foi sendo democratizada, brancos e negros, pobres e ricos, homens e mulheres tiveram “livre” acesso à Escola pública brasileira. Durante o período de domínio da direita reacionária representada pelos militares, nossa educação foi prejudicada, o que já não era bom, teve retrocessos. Contudo, parece-nos que foi o período em que mais lutamos pelo direito de educação. Nossos jovens não se preocupavam com drogas, apesar de alguns usarem, mas preocupavam-se com lutar por seus direitos. Grandes educadores e intelectuais foram forjados na repressão deste período, onde estudantes e professores lutavam pela mesma causa; a liberdade.
Temos então, um paradoxo, ou seja, percebemos pela história que quanto mais são as adversidades para se educar, mais se busca a educação. Então, o que acontece com nossos jovens hoje em dia? Por que não os vemos estudar com alegria já que não temos nenhum impedimento em nosso país? Por que alguns se interessam mais por drogas do que por educação? Muitos vão aos estádios de futebol brigar, lutar uns contra os outros, uma luta sem nenhuma finalidade. Mas não se unem para protestar contra políticos oportunistas que buscam em final de mandato aprovar 13°, 14°, e 15° salários, por exemplo. Nossos jovens deveriam estar unidos para protestar contra a corrupção e os escândalos, deveriam se unir para reivindicar mais incentivos para a educação e não para usar drogas nas dependências da escola, como alguns fazem. Teria se tornado nossa Escola pública uma droga? Não precisaríamos de professores mais preparados e motivados? No Japão, país com ensino exemplar, os professores nunca largam os estudos: 100% participam de programas de formação continuada do primeiro ano de formação à aposentadoria. No Brasil, só 9% fazem isso. Não seria por isso que nossa educação é uma “droga” e um fracasso? É nossos alunos estão desiludidos e nossos professores também. Contudo, é papel dos bons mestres buscarem novos recursos didáticos para despertar a responsabilidade e a colaboração dos alunos. É muito bom, porém, quando um aluno reconhece esse valor. Nossos jovens precisam deixar de serem alienados pelas drogas e coisas fúteis, precisam dizer não ao tráfico que adentra nas escolas e cobrar das autoridades responsáveis melhores projetos para a educação e mais verbas. Nossos jovens precisam “acordar”, e só nós educadores é que conseguiremos isso, portanto devemos “acordar” também.
Para tanto, devemos estar juntos e buscarmos apoio da sociedade. Pois o MEC propagandiza que as escolas terão autonomia, que estão recebendo as verbas e decidirão como melhor aplicá-las. Entretanto, a nova LDB não contempla nossas principais reivindicações, e sobre a gestão democrática da Escola, trata-se de uma autonomia relativa. Nada mais é que a gestão participativa, inspirada na qualidade total do trabalho, ou seja, tudo vem pronto, é de cima para baixo, o professor só tem que obedecer, não tendo liberdade de agir. Na verdade, o governo maquia nossas reivindicações, transparecendo que está cônscio de algumas delas e de que os problemas educacionais serão resolvidos a partir da escola. É onde devemos protestar e não deixarmos que eles nos enrolem.
Por último, a droga “freqüenta” a escola devido à crise crônica do sistema educativo que é reflexo da crise globalizada do sistema capitalista que investe mal e transforma a escola numa coisa ruim para nossos jovens. Onde, os problemas pela escola enfrentados não serão resolvidos por si mesmos. O discurso de que o jovem deve estudar para ascender socialmente não cola mais, as reformas educacionais e o Estado estão a serviço do FMI e do Banco Mundial para pagar dívidas internas e externas. Então, precisamos rever essas reformas. Porém, só com a superação do capitalismo e a conquista de um governo dos trabalhadores que aplique um plano econômico alternativo e resolva o problema das drogas no Brasil é que teremos perspectivas de resolução definitiva da crise educacional. Neste sentido, urge iniciar a resistência a partir da escola e da comunidade rumo à unificação do conjunto dos trabalhadores para barrar a ofensiva neoliberal na educação e na economia que marginaliza milhares de crianças, adolescentes e jovens, ao acesso à escola e ao mercado de trabalho, por isso eles se drogam e não estudam. No entanto, a maior estratégia deste Governo neoliberal brasileiro é a privatização do sistema de ensino do Brasil, a exemplo do que aconteceu com a educação chilena, coloquemos a barba de molho!






Nilton Carvalho é professor, cabeleireiro, teólogo, historiador. Pós-graduando em Docência Universitária pela Universidade Católica de Goiás. ndc30@hotmail.com