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sexta-feira, 25 de junho de 2010


Discrepâncias entre o professor e o político
“Eu quero investigar se pode haver, na ordem civil, alguma regra administrativa, legitima e segura, que tome os homens tais como são e as leis tais como podem ser”. Estas são as primeiras palavras de Jean-Jacques Rousseau em seu livro intitulado Do contrato sócia. Rousseau propõe refletir sobre as vias para dar-se forma a uma comunidade política que tenha as suas bases assentadas num poder político passível de ser considerado legítimo. Sendo o poder desta natureza, a sociedade haveria de fazer-se bem ordenada e assegurar a cada homem os meios de desfrutar da maior felicidade possível, tendo os recursos necessários para aprimorar-se integralmente em seu nível mais elevado.
Felicidade aqui significa dizer que o Estado cuidará do cidadão como seu verdadeiro filho. A imagem de pai diz que “[...] existe um homem que se esforça no cumprimento do dever para dar bom exemplo. Que fica humilde, quando poderia se exaltar. Que chora à distância, a fim de não ser observado. Que, com o coração dilacerado, se embrutece para se impor como juiz inflexível. Que apenas fisicamente passa o dia distante, na luta por um futuro melhor. Que, ao fim da jornada, avidamente regressa ao lar para levar muito carinho, e, às vezes, receber tão pouco” (trechos da poesia “Imagem de Pai” de Rivalcir Liberato). O Estado então como o pai que é o símbolo de segurança e provisão para seus filhos deve segundo Rousseau, proporcionar a todos os cidadãos saúde, educação e segurança com qualidade. O que não se podem perceber no Brasil quando o assunto é felicidade do cidadão.
A equação do problema colocado pelo texto e que decorre, na verdade, de um minucioso diagnóstico efetuado em obras anteriores, principalmente no Discurso sobre a desigualdade, passa pela realização de um pacto social legítimo. É esse pacto, com o qual os indivíduos alienam simultaneamente todos os seus direitos para o conjunto da comunidade de contratantes, que permitirá o advento da sociedade bem ordenada. Nessa ordem ideal, que floresce por meio deste artifício, os homens encontram a sorte de retomar a liberdade e a igualdade, vendo-se subordinados unicamente à lei cuja prescrição é feita por eles mesmos.
Tudo isso numa comparação entre um professor que no Brasil tem média de formação e formação continuada de nove anos (não confundir com formação básica que compreende: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) e salários médios de R$ 950.00, e um político que tem em média a educação fundamental e média salarial de R$ 11.545.00 por minuto e R$ 39.000.000.00 por ano (fonte: http://brasigo.com.br/perguntas/salario-do-politico-do-brasil-o-maior-do-mundo-e-justo), no contexto da Constituição Federal, não concorreria de modo algum a favor daquele que é considerado o Mestre.
Quando a Carta Magna coloca lado a lado os dois cidadãos, pode-se apostar que o fim do relato inverterá as dignidades implicadas no início. Pois, por intermédio dos professores vários “homens sagrados” (Vereadores, Prefeitos, Deputados, Senadores e Presidentes) reforçaram seus ofícios e “funções vocacionais na execução de seus respectivos ministérios”.
A obra de Rousseau colocada em pauta de discussão a maioria dos tratados clássicos de semelhante gênero, já que se divide em quatro livros, apresentando, por assim dizer, duas ordens de problemas. A primeira ordem estaria centrada em buscar os fundamentos do poder político legítimo, encontrando-se disseminada em especial no livro um, apesar de se estender claramente até o livro dois; a segunda procura refletir mais sobre o plano prático, sobre a esfera de funcionamento da máquina do Estado, delineando, sobretudo nos livros três e quatro, ainda que subsídios para isso sejam lançados também no livro dois em seu ponto próximo de seu fechamento, a instância administrativa, a dimensão institucional em termos concretos, de semelhante engenho que nós mesmos estabelecemos.
Por fim, seria bom que a população brasileira conhecesse obras assim e cobrassem dos políticos explicações sobre as discrepâncias existentes entre professores e políticos, e os seus salários. Haja vista a importância de um político para a sociedade que é pífia em relação a importâncias dos professores e outros trabalhadores. Por que o político tem direito a tanto (vale-roupa, vale-carro, vale-casa e outros) e o cidadão a tão pouco? O professor se quer tem direito a estudar mais e melhor para se qualificar. Pense nisso leitor.
Nilton Carvalho é cabeleireiro, professor, teólogo, historiador e pós-graduado em educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás-(PUC). ndc30@hotmail.com; http://historiaeculturandc.blogspot.com/