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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Quando a ética e a honra vencem o status quo

         Antes de mais, se faz necessário uma sinopse do filme Código de Honra (School Ties), que aqui é nosso objeto inspirador, o filme tem como diretor Robert Mandel, que foi muito criticado pelos especialistas em cinema, contudo, este filme é a prova de que um bom roteiro, mesmo sem um grande diretor, consegue sair um bom filme. Enfim, nos anos 50, David Greene (Brendan Fraser) é um garoto judeu de família simples que consegue entrar numa escola particular de prestígio. Apesar de não ser rico é aceito pelos colegas, graças a sua simpatia ganha respeito com seu desempenho no time de futebol. Porém, ele acaba se deparando com pessoas extremamente preconceituosas, fazendo-o esconder suas origens judias, assim ele constrói amizades se tornando bastante popular no local. Torna-se o quarto zagueiro titular, apaixona-se por uma garota, o que lhe custará muito caro. Pois, Charlie Dillon (Matt Damon) era o então titular quarto zagueiro, e ainda dizia para todos namorar a garota que David se apaixonara. Contudo, quando descobrem que ele é judeu, seu mundo desaba, os novos amigos e a namorada se afastam e um forte antisemitismo se faz presente na escola de Saint Matheus. A história engrossa ainda mais quando um professor encontra o papel de uma cola durante uma prova. Este é o motivo do título do filme, código de honra é um documento que todos assinam garantindo que não vão colar, tanto é que o professor sai da sala na hora da prova. No entanto, o que se vê no drama é que as pessoas que se dizem honradas são capazes de cometer as maiores injustiças com os verdadeiros honrados. David sabe de quem é a cola, mas os outros alunos cogitam jogar a culpa em seus ombros. O filme que é de 2002, conta com vários rostos que começavam a ganhar espaço em Hollywood, como Brendan Fraser, Chris O’ Donnell, Matt Damon e Bem Affleck.
         Bem, o filme Código de Honra é uma riqueza para educador e educando ele nos mostra a realidade não da década de cinqüenta somente, mas de nossos próprios dias. A avaliação é tema do filme e de vários debates, mas a discriminação, preconceito e intolerância também os são. Portanto, eis aqui o que precisamos para começarmos uma boa discussão. É óbvio, que não devemos descriminar as pessoas pela sua religião, etnia, condição social, estrutura física etc., mas isso não para de acontecer, e o que é pior, acontece no ceio de nossas escolas. Todavia, neste filme a ética e a honra vencem o status quo dos pseudo-intelectuais e das pseudo-elites. Também, a questão de que pelo fato do homem ter um sobrenome nobre, como é o caso de Charlie Dillon (Matt Damon), ele comprar a entrada em ótimas universidades ou em qualquer que seja a instituição de ensino, ou um emprego, cai por terra. No filme isso é tratado de forma explicitamente ética por parte dos professores e dirigentes da escola. Em geral o filme nos ensina grandes lições: existem pessoas que devido à influência de sua família ou de sua condição social pensam ser pequenos deuses, e que tudo deverá girar em torno delas. Elas querem espaço e sucesso pelo viés da influencia da família e não pela capacidade e esforço próprios. São na maioria, medíocres, avarentas, mimadas e ridículas acima de tudo, fazem piadinhas com a cultura, sexualidade, deficiência e fraquezas dos outros. Pensam não precisar respeitar a ninguém, pois são da “elite” intelectual e financeira de seu país.       
         A avaliação da aprendizagem escolar, em código de honra, adquire seu sentido na medida em que se articula com o projeto pedagógico proposto pela escola e com seu conseqüente projeto de ensino, que é de uma educação tradicional, que verifica, portanto, exclui e não inclui o aluno no tão almejado curso superior. É também, uma avaliação que examina o aluno, e não diagnostica como se dá o processo de ensino-aprendizado. Porém, a avaliação, tanto no geral quanto no caso específico da aprendizagem, não possui uma finalidade em si; ela subsidia um curso de ação que visa construir um resultado previamente definido.
         No caso que nos interessa, a avaliação subsidia decisões a respeito da aprendizagem dos alunos, tendo em vista garantir a qualidade do resultado que estamos construindo. Por mesmo tempo, a questão da pluralidade cultural também passou a ser foco de atenção do filme, no Brasil está presente, inclusive, em documentos oficiais. Código de honra identifica nos Estados Unidos, algo que podemos em nossa sociedade, chamar de “mito da miscigenação brasileira”, segundo o qual não existiria preconceito racial em nosso país, posto que o Brasil tivesse sido formado por brancos, negros e índios. A noção divulgada por esse mito é, de acordo com o filme, acrítica e leva a um preconceito velado. Em uma sociedade como a brasileira, seria essa uma forma muito mais eficiente de discriminação, visto que fica implícita nas relações e no imaginário de todos, sem que dela se fale e, como conseqüência, sem que contra ela se lute, é o que se percebe na cultura norte-americana também, a partir deste filme. Assim como a trama, do filme, o Brasil não poderia simplesmente negar sua história, efetivamente realizada por portugueses brancos e aristocráticos, que trouxeram ao país um quadro rígido de valores discriminatórios. Ao longo do tempo o preconceito racial foi negado pela sociedade brasileira, por seus meios de comunicação e até mesmo pela escola, disseminando-se a noção de que o país teria como característica uma “cultura uniforme”. Dessa forma, o desprezo por muitas culturas “marginais” foi camuflado por uma falsa idéia de igualdade.
         Portanto, os diferentes modelos de educação moral são marcados, basicamente, por três tipos de concepções: o “dogmatismo moral”, pelo qual a educação está baseada em valores absolutos inquestionáveis e imutáveis, impostos por um poder autoritário de forma coercitiva; o “relativismo moral”, pelo qual as normas de conduta e os valores morais são considerados subjetivos e pessoais, não havendo um consenso sobre a melhor forma de agir; e os modelos baseados na “construção racional e autônoma de valores”, que buscam o desenvolvimento de situações que facilitem a construção da autonomia do educando e a participação democrática dos vários membros da escola. O filme parece propor toda essa discussão.



         Nilton Carvalho é professor de história e pós-graduando em educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC). ndc30@hotmail.com; http://historiaeculturandc.blogspot.com/

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