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sábado, 2 de maio de 2009


Capitalismo meio para o parasitismo social

“Fôssemos infinitos, tudo mudaria. Como somos finitos, muito permanece”.
(Bertolt Brecht).

A suposição de uma natureza parasitária do ser humano continua atual. Afirmações como a de que a exploração sempre tenha existido, ou de que ela seja uma mera manifestação da natureza humana, continuam sendo usadas para legitimar a expansão da barbárie capitalista. Na Alemanha, por exemplo, a crença numa suposta natureza capitalista da humanidade é expressa tanto pelo senso comum como por alguns intelectuais quando se debate a possibilidade de uma sociedade não-capitalista, sendo apresentada normalmente como explicação para o desmoronamento da experiência soviética nos países do Leste Europeu. Como se pode fundamentar essa argumentação e qual seria mesmo a base do parasitismo social?
Na história do pensamento houve muitas tentativas de afirmar uma natureza do ser humano, geralmente tentando comparar o comportamento humano com o dos animais. Assim, surgem as idéias do ser humano como naturalmente racional, político, social, etc. Na relação com o parasitismo, ou seja, com a situação em que um ser humano vive na condição de parasita de outros, as posições teóricas de Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau são demarcadoras para o debate teórico seguinte. Segundo Hobbes, os seres humanos são como lobos entre si, ou seja, maus por natureza, e seria necessário constituir um Estado forte, um Leviatã, para impedir que a humanidade se destrua a si mesma. Como exemplo disso, citaremos aqui um fato ocorrido há alguns dias, onde um colega extremamente avaro e amante do bem material mais do que do ser humano, quase agrediu fisicamente uma criança menor de dois anos porque esta lhe dera um pequeno prejuízo. Para Rousseau, ao contrário, o ser humano natural seria bom, amante de o próprio ser humano e justamente as instituições políticas, a sociedade civil, o teriam corrompido, claro que com toda a ajuda do capitalismo, onde o que interessa é o lucro e o acumular. Rousseau propõe um contrato social para que, com base na vontade geral, a humanidade possa resgatar sua liberdade e igualdade original. A posição de Hobbes parece ter sido a mais difundida, possivelmente por ter servido melhor aos interesses do liberalismo com o avanço do capitalismo, legitimando a desigualdade realmente existente e servindo à justificação da violência de classe do Estado. Para Rousseau, a tarefa teórica foi muito mais difícil, pois teve que identificar o momento original em que teria se dado a passagem do estado natural para a sociedade civil. Essa origem da desigualdade entre os seres humanos é identificada por Rousseau na instituição da propriedade privada.
Ambos os filósofos recorrem à criação de uma realidade imaginária para afirmar uma proposta de Estado e marcam profundamente o surgimento do liberalismo em superação ao absolutismo do fim da Idade Média e começos da Moderna. A identificação com um ou outro paradigma teórico, certamente, conduz a conseqüências frontalmente opostas. A utopia de outro mundo possível é muito influenciada pela interpretação da história da humanidade, ou seja, a identificação de um período em que não teria havido exploração e desigualdade, poderia aumentar a possibilidade de concretização de uma nova sociedade. A caracterização da desigualdade existente como algo que “sempre existiu”, ao contrário, tende a reforçar uma postura de legitimação que serve de obstáculo à utopia de transformação da realidade social. Como não há provas da existência de um período livre de injustiça, exploração e desigualdade na história da humanidade, a discussão continua no campo imaginário, o que também é à base da utopia.
Seja, talvez, por isso o parasitismo de nossos jovens, de nossa sociedade em geral e por que não dizer de nós mesmos. Pois vivemos em um país, de castelos, mansões e palácios construídos com verbas públicas desviadas e não fazemos nada, ficamos em completo estado de parasitas, pois se estamos possuindo muitos bens, que se danem os que não têm pão, paz, lar e terra.

Nilton Carvalho é cabeleireiro, teólogo, historiador e pós - graduando em Docência Universitária pela Universidade Católica de Goiás. ndc30@hotmail.com

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