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sábado, 2 de maio de 2009



Educação, diversidade e o ensino – aprendizagem

O papel do professor no processo ensino - aprendizagem em face das continuas e rápidas mudanças advindas no decorrer do séc. XXI, se faz mister também, na diversidade cultural e, não só mais no modelo pedagógico tradicional que não visa o preservar cultural ou o aprender cultural dos diferentes grupos e atores sociais e culturais. As informações nos chegam, hoje, rapidamente e o que antes demorava uma década para mudar, nos dias atuais ocorre da noite para o dia. Dessa forma e diante da quantidade de informações e da facilidade de acesso a estas, deve o professor conduzir o aluno de forma que possa o aprendizado ser mútuo e repleto de diversidades culturais. Pois estas fazem parte da vida e a vida é uma paixão eterna. Aprender é uma constante e ensinar uma dádiva. O professor deve “traduzir” os ensinamentos de forma que o aluno se sinta em seu próprio mundo cultural, até porque os mecanismos intelectuais[1] relacionados adquirem nova função dentro de uma inesquecível “viagem” e dessa forma passa a assegurar a produtividade do ensinamento – aprendizado (VIGOTSKI, 1998), mas com diversidade da cultura que se fizer necessário aos seus receptores. Para que isso aconteça, serão necessárias políticas públicas coerentes que tratem diretamente com a realidade do interculturalismo no espaço educacional para que tenhamos igualdade, justiça e respeito à diversidade da figura humana quer em sua individualidade, quer quando representada por grupos sociais (UNESCO, 2006).
A barreira e distanciamento entre educação diversa, professor e aluno devem dar lugar a uma relação de carinho e proximidade deixando para trás os resquícios da educação tradicional, católica e européia, avançando em direção de uma educação na diversidade. Uma proximidade tal que aluno seja levado a querer aprender, até porque, as relações interétnicas que ocorrem em uma escola entre alunos, docentes e diretores de diversas procedências étnicas são na verdade uma interação intercultural (UNESCO, 2006). A desejar sempre mais e que o educador sinta-se como um elemento de importância fundamental na vida daquele aluno que levará para sempre os ensinamentos adquiridos. Os docentes devem ser preparados para a arte do ensinar na diversidade, não dar para brincar de saber. O reconhecimento oficial e o apoio institucional às experiências interculturais urgem, pois o Estado brasileiro ainda enxerga a educação diversa e seus atores como sujeitos de interesse público e não como sujeito de direito. Não basta ao professor ser um bom pesquisador, necessário se faz que seja, também, um bom transmissor de conhecimentos para a diversidade. Ocorre que para a educação básica é exigido formação especifica para ministrar aulas, no entanto aulas tradicionais. Fato este que deve ser mudado, uma vez que para transmitir conhecimentos interculturais não basta apenas tê-los, mais que isso o educador deve ter a formação necessária para tal.
Existem profissionais extremamente habilitados para militar em suas respectivas áreas e ainda munidos de profundo conhecimento, entretanto limitados quando o assunto é transmitir seus conhecimentos, ainda mais quando se trata de conhecimentos interculturais, por exemplo, de povos indígenas. Todavia,

... A partir desse tipo de abordagem teórica, a diversidade cultural das escolas está entendida como diversas concepções de mundo postas em prática pelos membros de grupos culturalmente diferenciados, ou em seu interior, não sendo eles necessariamente indígenas (UNESCO, 2006, p. 51).

Contudo, o professor deve ser um aliado na construção do indivíduo - aluno- e não, simplesmente, um transmissor de disciplinas. O professor deve ainda estar apto as contínuas mudanças de nosso dia a dia e no caso da diversidade “seus objetos de estudo são os processos socioculturais ligados a estilos de aprendizagem e conteúdos culturalmente situados, que têm lugar em diversas situações educativas” (UNESCO, 2006, p. 51). Como, por exemplo, a questão da educação étnico-cultural/racial, ressaltando a importância e a necessidade da desconstrução social do preconceito e da discriminação racial que são atribuídos à população negra. Donde se procura suscitar reflexões sobre as representações sociais negativas colocadas sobre a população negra por meio de estigmas e estereótipos, abordando particularmente a questão da educação étnico-racial no espaço escolar a partir da Lei Federal Nº 10.639 de 09 de janeiro de 2003 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/96 estabelecendo a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares. O que caracteriza o uso da educação e do ensino - aprendizagem na diversidade cultural (NILMA, 2005).
Por último, muitos antropólogos, historiadores e cientistas sociais, a exemplo de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Fernando de Azevedo e, mais recentemente, Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro, Roberto da Matta, Alfredo Bosi e Renato Ortiz, já se preocuparam em definir e compreender a cultura brasileira em suas múltiplas dimensões. Todos, a par de suas diferentes posições político-ideológicas, são unânimes em concordar que a característica marcante de nossa cultura é a riqueza de sua diversidade, resultado de nosso processo histórico-social e das dimensões continentais de nossa territorialidade. Nesse sentido, o mais correto seria falarmos em “culturas brasileiras”, ao invés de “cultura brasileira”, dada a pluralidade étnica que contribuiu para sua formação. As palavras do antropólogo Darcy Ribeiro são bastante elucidativas:


Surgimos da confluência, do entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos. (...) A sociedade e a cultura brasileiras são conformadas como variantes da versão lusitana da tradição civilizatória européia ocidental, diferenciadas por coloridos herdados dos índios americanos (RIBEIRO, 1995, p. 62).


Apesar da influência marcante da cultura de matriz européia por força da colonização ibérica em nosso país, a cultura tida como dominante não conseguiu, de todo, apagar as culturas indígena e africana. Muito pelo contrário, o colonizador europeu deixou-se influenciar pela riqueza da pluralidade cultural de índios e negros. No entanto, o modelo de organização implantado pelos portugueses também se fez presente no campo da educação e da cultura. Apesar desse fato incontestável de que somos, em virtude de nossa formação histórico-social, uma nação multirracial e pluriétnica, de notável diversidade cultural, a escola brasileira ainda não aprendeu a conviver com essa realidade e, por conseguinte, não sabe trabalhar com as crianças e jovens dos estratos sociais mais pobres, constituídos, na sua grande maioria, de negros e mestiços. Nesse sentido, uma análise mais acurada da história das instituições educacionais em nosso país, por meio dos currículos, programas de ensino e livros didáticos mostra uma preponderância da cultura dita “superior e civilizada”, de matriz européia. Os livros didáticos, sobretudo os de história, ainda estão permeados por uma concepção positivista da historiografia brasileira, que primou pelo relato dos grandes fatos e feitos dos chamados “heróis nacionais”, geralmente brancos, escamoteando, assim, a participação de outros segmentos sociais no processo histórico do país. Na maioria deles, despreza-se a participação das minorias étnicas, especialmente índios e negros. Quando aparecem nos livros didáticos, seja através de textos ou de ilustrações, índios e negros são tratados de forma pejorativa, preconceituosa ou estereotipados (ORIÁ, 1996). O certo seria que livros didáticos trouxessem lições visando uma educação diversa, mostrando como o branco destruiu suas respectivas culturas aculturando-os, as diversas culturas precisam conhecer como era a sua própria cultura.

Nilton Carvalho é Professor, Cabeleireiro, Teólogo, Historiador e Pós - Graduando em Docência Universitária pela Universidade Católica de Goiás. ndc30@hotmail.com



[1] Vigotsk em sua obra “A formação social da mente” mostra como há diferença entre os processos de ensino-aprendizagem entre uma mente madura e uma mente infante, assim se dá também entre a educação tradicional e a educação diversa, o indivíduo escolhe o estímulo como ponto de partida do movimento conseqüente, mas seleciona o movimento, In. VIGOTSK, Martins Fontes, 1998.

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